A luz da lâmpada de Gaston Bachelard
Expositor: Renan Paraguassú
Comentadora: Adhara Marques
Não consegui me concentrar na apresentação dos colegas, o texto de teor filosófico e poético me arrebatou da sala.
Fiquei com vontade de ser amiga do Bachelard de ficar a luz de uma lâmpada com ele tomando um chá ou um vinho, durante a aula ela fez parte de uma etnocenologia própria do meu imaginário, imaginei paredes tingidas da fuligem da fumaça do lampião (inspiração da memória da minha infância, senti até o cheiro de óleo de querosene), unhas sujas de tinta e papel borrado pelo vidro do tinteiro virado sobre ele.
Trecho da obra:
... Aqueles que viveram em outro século dizem a palavra lâmpada com outros lábios diferente dos lábios de hoje. Para mim, sonhador de palavras, a palavra lâmpada elétrica me faz rir. Nunca a lâmpada elétrica poderá ser bastante familiar para receber um adjetivo possessivo.
Quem pode dizer agora: minha lâmpada elétrica como dizia antigamente: minha lâmpada? Ah! Como sonhar ainda, nesse declínio dos adjetivos possessivos, desses adjetivos que diziam tão fortemente a companhia que tínhamos com nossos objetos?
A lâmpada elétrica não nos dará nunca as fantasias dessa lâmpada viva que, com óleo, fazia luz. Entramos na era da luz administrada. Nosso único papel é o de ligar o interruptor. Somos apenas o sujeito mecânico de um gesto mecânico. Não podemos mais aproveitar deste ato para nos constituirmos, com orgulho legitimo, em sujeitos do verbo acender.
ninguém virá
a chama não é iluminante
a penumbra é cativante da solidão
chama morna
passa pelos dedos
sem arder
suave
calma
inspira devaneios
vela meus sonhos
não há a luz nos pesadelos
a luz dos olhos concebe a criação
iluminando tudo
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